Quando são estudantes quem dão as aulas

Em 2015, os estudantes de São Paulo se revoltaram contra a reforma escolar proposta pelo governo de São Paulo de Geraldo Alckmin (PSDB) e ocuparam as escolas de São Paulo. Em outros estados em que as reformas já estavam sendo implementadas, como o estado de Goiás, as escolas também foram ocupadas pelos estudantes.

Os governos paralisaram momentaneamente suas reformas, mas seus planos continuaram sem ouvir às/aos estudantoas.

Em 2016, após o golpe na presidência da república, os projetos de reforma amplamente rejeitados em SP, Goiás e em outros estados voltaram. Só que desta vez nacionalizados e esbanjando repressão.

Enquanto oas estudantoas de todo o Brasil ocupavam as escolas para dizer não, os governos fechavam os ouvidos aos estudantoas e buscavam comprar o apoio do professorado e da população utilizando-se das promoções e premiações seletivas, negociações escola por escola e publicidade. Muito publicidade e muito dinheiro gasto em publicidade.

Que tal ouvir oas estudantoas? Melhor não, eloas não tem nada a dizer!

Eloas não tem nada a dizer!

Para ilustrar, abaixo algumas rimas em vídeo feitas pelo MC Estudante.

A primeira sobre como fazer redação do ENEM. Na sequência como interpretar a História e compreender Biologia.

MC Estudante – Redação do ENEM

MC Estudante – História do Brasil

MC Estudante – Biologia da Rima

Para quem desobedeceu o post e viu os vídeos mas não teve a oportunidade de ir a uma escola ocupada, um material para compreender a escola onde quem dão as aulas são oas estudantoas.

Saiba mais sobre MC Estudante.

Para compreender a proposta de “reorganização escolar” do governo estadual de São Paulo.

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“Não existe justificativa para fechar escolas em um país com cerca de 13 milhões de analfabetos." – Cidadão comum

Uma série de perguntas e respostas do que você não sabe, mas deveria saber sobre a “reorganização escolar".

O governo diz que a quantidade de alunos por sala de aula permanecerá entre 35 a 40. Isso não é bom?

Não. Todos sabemos que a quantidade de alunos em sala de aula é extremamente importante para a qualidade do ensino. Se tomássemos como parâmetro a qualidade, a única medida possível de ser tomada seria a redução imediata do número de estudantes por sala de aula.

Para justificar a reorganização, o governo argumenta que houve diminuição da demanda pela educação. No entanto, ao tentar “manter" o mesmo número de alunos, reduzindo escolas e salas de aula, esconde que ter de 35 a 40 estudantes em sala de aula é um número altíssimo.

O que fazer quando há diminuição da demanda?

Quando há diminuição da demanda, a única saída para melhorar a educação é a de diminuir a quantidade de estudantes em sala de aula em todas as escolas. Atualmente as salas estão lotadas e só com a diminuição seria possível que todos os/as estudantes tivessem as mesmas condições de desenvolver suas capacidades.

Diminuir a quantidade de alunos em sala de aula funciona?

Uma redução do número de alunos por sala de aula é capaz de melhorar significativamente a qualidade do ensino. A sala de aula com um número menor de alunos aumenta, por exemplo, a capacidade do professor de acompanhar o desenvolvimento individual dos estudantes, de compreender suas demandas, e de organizar melhor o tempo de sua aula.

Qual a proposta do governo sobre a diminuição da demanda?

O governo quer manter as salas de aulas lotadas, mesmo com a diminuição da demanda. Quanto mais alunos dentro de sala de aula, mais difícil se torna o acompanhamento pedagógico. Para os estudantes, menor a possibilidade que têm de fazer perguntas ou de tirar dúvidas. Além disso, com mais pessoas em sala, os estudantes se distraem mais. Ou seja, as condições de aprendizagem se tornam piores.

O que fazer com os/as estudantes com necessidades especiais?

O caso dos estudantes com necessidades especiais é emblemático. A política de inclusão, que é correta do ponto de vista pedagógico, não pode se efetivar com a quantidade de alunos atual em sala de aula. Com a manutenção desse número, esses estudantes que recebem pouco ou nenhum cuidado não poderão ser incluídos integralmente no processo educativo.

A proposta de reorganização negligencia os estudantes com necessidades e faz com que suas necessidades continuem sendo ignoradas.

O que o governo deveria fazer?

A solução mais prática e eficaz para o governo, se tivesse a real intenção de melhorar a qualidade do ensino, seria de reestabelecer as metas em relação à quantidade de alunos em sala de aula. As novas metas seriam capazes de diminuir o número de estudantes em sala.

Com isso, o governo conseguiria melhorar as escolas e cumprir seu dever constitucional.

Separar os ciclos melhora a qualidade do ensino?

Não. Nem do ponto de vista pedagógico, nem do ponto de vista da segurança a separação de ciclos é uma boa política.

Mas o governo diz que com os ciclos separados as escolas “melhoram 10%".

Do ponto de vista pedagógico, o governo do Estado vai contra a tendência mundial das escolas democráticas de ter sala de aulas multisseriadas e interdisciplinares.

A aptidão dos e das estudantes, o interesse deles pelos temas que são tratados, e seu desempenho e capacidade de colaborar com os colegas de sala, tudo isso está sendo desconsiderado do ponto de vista pedagógico pelo governo. O governo apresenta uma porcentagem que não possui nenhuma base teórica para se justificar.

Além disso, fora da sala de aula o ambiente escolar também fica menos diverso e menos inclusivo.

O que acontece quando os e as estudantes finalizam um ciclo?

Com a política de reorganização, os alunos são obrigados a mudar de escola ao final de um ciclo. Isso significa que o envolvimento do aluno com a escola e com o ambiente escolar será reduzido.

Também será reduzido seu envolvimento com toda a comunidade escolar, entre eles funcionários, professores, pedagogos, psicólogos, dentre os demais trabalhadores. O desenvolvimento das capacidades dos alunos e alunas depende de sua interação com a comunidade dentro e fora da escola, e não apenas com a sala de aula.

Os professores também serão impedidos de acompanhar o desenvolvimento dos e das estudantes ao longo dos anos.

O que acontece com o trajeto dos e das estudantes até a escola?

A reorganização prejudica a segurança dos estudantes. No caso de pais que têm mais de um filho, muitos serão impedidos de levar seus filhos à escola, obrigando os alunos a fazer trajetos desacompanhados em diferentes horários, percorrendo trajetos muitas vezes considerados inseguros.

Para muitos outros estudantes, o acesso à escola depende dos irmãos, irmãs, parentes, vizinhos, que fazem o trajeto para a mesma escola. Ou seja, depende de pessoas de confiança que moram no bairro e na comunidade para seu deslocamento diário.

Estudando na mesma escola, os estudantes e os pais se organizam de maneira a fazer o melhor trajeto, pegar caronas, se organizam em pequenos grupos que caminham juntos e passam por ruas com mais segurança. Muitos pais já declararam que não ficarão tranquilos com a proposta de reorganização.

O que farão os alunos de inclusão?

A situação fica agravada para os alunos de inclusão que não apenas necessitam de apoio como dependem desses esquemas de colaboração de outros estudantes da escola para conseguirem chegar às escolas diariamente.

Os ciclos não evitariam o bullying?

Não. Dentro da escola, a reorganização em ciclos pode significar evasão escolar para alunos e alunas que não poderão estar acompanhados das pessoas que consideram de sua confiança dentro da escola sejam estes irmãos, irmãs, vizinhos ou amigos de diferentes idades.

Os professores e professoras, por exemplo, como não conhecem o novos alunos vindos do ciclos anteriores, podem demorar mais a perceber os casos de violência física ou psicológica.

Os ciclos separados criam uma situação de maior vulnerabilidade para muitos dos e das estudantes.

As escolas divididas por ciclos não vão ajudar os professores?

Em um primeiro momento, a diminuição dos deslocamentos dos professores parece ajudar. Porém, a manutenção das salas superlotadas continuará causando desgaste no dia-a-dia e não vai refletir na melhoria da qualidade do ensino.

Não existe malabarismo com ciclos capaz de satisfazer as necessidades básicas dos professores: o aumento do pagamento por hora-aula, a diminuição da carga horária e as novas contratações capazes de diminuir o número de estudantes em sala de aula.

Para o governo, a demanda diminuiu. Mas o que acontece em momentos de crise?

Dentre outros, os motivos econômicos influenciam diretamente na escolha da escola pelos pais. Na crise, eles aumentam a demanda por vagas na escola pública.

Um pai ou uma mãe podem ficar desempregados, ou, por causa da inflação, uma família pode retirar os filhos da rede privada e colocá-los na rede pública. Uma crise econômica influencia diretamente na educação de alguns estudantes e pode condenar outros a ficarem sem vagas.

A crise não atinge também os governos?

Apesar das crises atingirem os governos, os governos não são pessoas. Ou seja, não cumprem ano letivo na escola. O efeito de uma má política ou má economia (como a proposta de reorganização) feita em tempos de crise certamente condenará os próximos governos, porém será ainda mais nefasta para as futuras gerações que dependem de boas políticas educacionais.

O governo não precisa economizar?

Sim, mas ao mesmo tempo, deve cumprir seu dever. É um dever do governo oferecer educação pública, gratuita e de boa qualidade para seus cidadãos. Além disso, o dinheiro que financia a educação não é do governo: o dinheiro é público. As contas públicas são pagas por toda a sociedade e não apenas pelos governantes que fazem parte desta ou daquela gestão.

Cabe à sociedade exigir que esses recursos sejam bem gastos. Isto não significa apenas “economizar” recursos, significa ter uma política séria de utilização das verbas públicas, que possa privilegiar a qualidade do ensino e dos profissionais que trabalham com o ensino.

Se a demanda por vagas voltar a crescer, o governo conseguiria criar novas vagas?

Mesmo se a resposta for afirmativa, quanto tempo você acredita que demoraria para o governo se adaptar?

A construção da estrutura física das escolas é cara. Além do custo efetivo da construção, o governo precisa fazer licitações e editais para novas construções e também novos concursos para a contratação de professores.

Outro detalhe não mencionado pelo governo é que após destinar os prédios e áreas públicas para outros usos, haverá necessidade de conseguir novas áreas disponíveis para construir as escolas. Isso pode não ser um problema para os quatro anos do mandato de um ou outro governante, mas pode custar a qualidade do ensino para os estudantes.

Afinal, o que fazer quando um governante falta com a verdade?

Recentemente, o governador de São Paulo Geraldo Alckmin proferiu em um evento público: “Qual o objetivo [da reorganização]? É melhorar a qualidade da escola pública”. Porém, já sabemos que o governador está faltando com a verdade.

O que você pode fazer contra isso?

O governador já mostrou que não está disposto a negociar ou a ouvir os estudantes que ocuparam as escolas estaduais. É por causa disso que as novas gerações já se cansaram desse tipo de política feita pelos governantes. Eles já se cansaram da falta de diálogo. Também se cansaram dos políticos que dizem dialogar mas que não se comprometem e não implementam os anseios coletivos da sociedade.

É por isso que os estudantes estão ocupando as escolas. É por isso que devemos apoiá-los.

A educação que a gente quer não cabe nas escolas existentes, imagine se fecharem 94!

Agora, os e as estudantes dizem não à reorganização. Já perceberam que é a hora de fazer política. De fazer um OUTRO tipo de política. É hora de se juntar a eles e elas. É hora da sociedade se organizar.

Texto disponível em: https://mariaretrograda.milharal.org/